Douglas Wires nasceu em 1971, é casado e mora atualmente no Rio de Janeiro, atuando no mercado de turismo desde 1995. Fluente em inglês, é emissor Amadeus e Sabre de passagens aéreas nacionais e internacionais. Trabalhou em empresas como: VARIG, OCEANAIR e CARLSON WAGONLIT, adquirindo sólidos conhecimentos e experiência em cálculos de tarifas aéreas, supervisão de reservas e negociação de serviços de viagens.

POR QUE O AERUS QUEBROU?


Aprimeira vez que tive conhecimento sobre fundos de previdência foi quando consegui meu primeiro emprego na VARIG, em 1995. Minha prima já era comissária nessa época e foi por intermédio dela (o famoso QI) que consegui ser chamado para participar de uma seleção de agente de reservas para trabalhar no call center da empresa, próximo ao SDU.

Ela já havia me falado sobre o AERUS, o plano de previdência privada dos funcionários da VARIG. Minha prima contribuía com 10% do salário dela para o AERUS. Tal aplicação lhe renderia uma aposentadoria extra além de empréstimos com juros de 1% a 3%. Algo bastante vantajoso, considerando os juros bancários de mais de 10% e ainda a segurança de ter o nome da VARIG como principal acionista do fundo.

Aos poucos, outras empresas foram se associando ao AERUS: SATA, VASP, TRANSBRASIL... Tudo parecia um céu de brigadeiro e não havia se quer um aeroviário e um aeronauta que não participasse do fundo com pelo menos 1%. Eu era um deles!

Então veio a crise aérea: a TRANSBRASIL faliu. E depois foi a vez da VASP... E a VARIG e a TAM lutavam para se manterem no mercado, mergulhadas em dívidas até o nariz e enfrentando um nova ameaça: a concorrência com a GOL, uma cia aérea enxuta, sem dívidas e com aviões novos e modernos.

Para continuarem operando, TAM e VARIG tiveram que se reestruturarem. Quanto a TAM, eu não sei bem o que ela fez. Agora, quanto a VARIG... Corria um boato pelos corredores da empresa que o AERUS estava desviando o fundo de pensão dos funcionários da VARIG para tapar os buracos financeiros da empresa. Tais boatos partiam dos próprios aposentados da VARIG que estavam sofrendo atrasos com o pagamento da pensão do AERUS, enquanto outros tiveram suas pensões interrompidas. Em contra-partida, os empréstimos para aqueles que ainda trabalhavam na empresa, foram também suspensos, o que aumentou ainda mais o clima de incerteza e insegurança com a instituição que administrava o fundo previdenciário.


Felizmente, não vivi o momento mais turbulento da VARIG. Fui demitido em outubro de 2000 e por lei recebi tudo que a VARIG e o AERUS me deviam: FGTS, férias, 13º. salário e a devolução de todas as aplicações no fundo que havia feito. Quem ficou, perdeu tudo! Porque a VARIG não tinha dinheiro para pagar os funcionários demitidos e ainda estava atrasando os salários de quem ainda trabalhava na empresa. Já quem era aposentado pelo AERUS, deixou de receber a pensão definitivamente porque o AERUS quebrou por ter financiado a dívida da VARIG.

Minha prima é sustentada até hoje pelo INSS e briga na justiça por uma indenização de mais de R$100.000 que o AERUS lhe deve por todos os anos de contribuição.

Se o AERUS não tivesse sido corrompido, acredito que ele seria um fundo de pensão independente e forte hoje, que poderia ser sondado por um banco interessado em administrá-lo ou até socorrido pelo governo no momento da falência da VARIG.

A conclusão que aprendi com tudo isso é nunca contratar planos de previdência, de saúde ou de aplicação que pertençam à empresa onde você trabalha. Nos bastidores administrativos, esses planos se transformam numa espécie de caixa 2 e o dinheiro aplicado é desviado para cobrir as despesas e dívidas da empresa em que você trabalha.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo texto

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