Douglas Wires nasceu em 1971, é casado e mora atualmente no Rio de Janeiro, atuando no mercado de turismo desde 1995. Fluente em inglês, é emissor Amadeus e Sabre de passagens aéreas nacionais e internacionais. Trabalhou em empresas como: VARIG, OCEANAIR e CARLSON WAGONLIT, adquirindo sólidos conhecimentos e experiência em cálculos de tarifas aéreas, supervisão de reservas e negociação de serviços de viagens.

SALÁRIO ALTO - A RAZÃO DO SEU DESEMPREGO

Outro dia na agência, eu estava discutindo com os meus colegas sobre demissão devido a crise que o Brasil passava em 2016 devido a corrupção dos políticos. Já havia um boato que seriam demitidas mais duas pessoas porque o volume de vendas caiu bastante. Segundo comentários, uma das demissões seria de um supervisor, já que existiam dois atendendo um mesmo cliente, embora de segmentos diferentes no mercado de petróleo. A outra demissão estava ligada ao salário... Isto é, um dos três consultores de outro departamento que tinham os maiores salários seria demitido.

Eu comentei então que hoje no turismo, não adianta você buscar um emprego para ganhar de 3 a 4 mil Reais porque no máximo você vai durar 2 ou 3 anos. Se a agência perder o cliente, você também perde o emprego porque a empresa não terá onde te realocar para você continuar empregado recebendo esse mesmo salário.  E então meu colega retrucou: “Mas você não acha que as pessoas têm o direito de buscar um salário melhor?”

Respondi que sim... Mas você precisa ser coerente consigo mesmo para avaliar se esse salário alto corresponde ao tipo de trabalho que você vai fazer na agência. Por exemplo: ganhar R$ 3 mil apenas para emitir passagens de ponte-aérea e fazer reserva de hotel nacional... Qualquer um que se formou numa faculdade de turismo e sem experiência consegue fazer isso hoje usando a internet, e recebendo menos da metade de quem almeja um salário tão alto. Na minha percepção, o que me faria exigir de um empregador um salário de 3 ou 4 mil Reais seria se fosse para trabalhar com grupos, plantão 24h em agência ou em consolidadora de viagem como emissor internacional. Fora isso, você tem que medir o seu salário de acordo com os tipos de tarefas que exercerá no emprego que está prospectando.

Em todas as agências que tenho prospectado emprego tenho reparado que elas possuem uma escala de remuneração para negociar contratação de funcionários, tipo: júnior, pleno e sênior. A lógica é a seguinte: se você entrar na agência ganhando o salário de consultor júnior, com certeza você ficará mais tempo empregado do que aquele que foi contratado ganhando um salário de consultor sênior. Isso porque, quando chega a crise e o corte de custos precisa ser feito, o empresário só enxerga números. Ele não se importa se você é super qualificado, elogiado, pontual e nunca faltou ao trabalho... Ele olha os custos, a começar pelo salário!

Dizem que os custos com impostos para um empregador manter um funcionário numa empresa é de 70% do seu salário. Ou seja, o seu salário bruto é R$ 3 mil, porém, para o empregador o custo para manter empregado esse funcionário chega a R$ 5.100! Esses R$ 2.100 a mais vai tudo para o Governo. Como? Eu não sei.

É claro que eu não vou aceitar também um salário de miséria tendo em vista toda a minha experiência e anos de mercado. Mas sabendo como esses empregadores pensam eu posso me programar em investir em coisa melhor já prevendo uma demissão num prazo futuro, com base nestes pontos que eu tenho testemunhado ao longo das agências por onde trabalhei.

1 – Os empresários do turismo estão investindo forte na automação de tarefas web.
Portais self-bookings, como esses sites da BOOKING.COM e DECOLAR.COM, são apenas um exemplo de como nós agentes de viagens temos sido substituídos pelas máquinas. Graças a Deus que por enquanto essa automação ainda não conseguiu nos substituir para fazer alteração de data de viagem. Mas mesmo assim, é uma das principais causas pela redução dos salários das agentes de viagens.

2 – Não existe plano de carreira nas agências de viagens.
Cheguei a essa conclusão quando percebi que um dos principais critérios para cortar custos é sempre demitir os funcionários que ganham os maiores salários. Mesmo com um salário de consultor pleno, chegará um ano que estarei ganhando na faixa salarial de um consultor sênior devido aos dissídios dos reajustes anuais negociados pelo sindicato com o empregador. Então, logo será a minha vez...

3 – Coordenador ou supervisor de equipe é coisa do passado. Se quer durar no emprego, é melhor ser comandado do que liderar pessoas!
Da mesma forma que as agências estão enxugando seus gastos, as empresas atendidas por elas estão também cortando os seus custos com viagens, a começar com reuniões via internet e abertura de filiais em outros Estados. Por causa disso, um grande cliente que antes era atendido por 7 ou mais consultores, hoje a realidade mostra uma agência estruturada por uma equipe de atendimento (call center) que atende vários clientes simultaneamente e liderada por um gerente, que nada mais faz do que acompanhar a qualidade do atendimento desses consultores. Feliz as agências que ainda têm postos de atendimento! Só o tempo dirá quanto tempo durará.

4 – Não adianta trocar de agência para ganhar um salário maior, pois o novo emprego poderá durar pouco tempo.
Já vi colegas meus que pediram demissão para ganhar R$ 400 a mais numa nova empresa, porém, fiquei sabendo depois que eles ficaram menos de 2 anos. Pense em tempo de aposentadoria! Se você ficar pulando de 2 em 2 anos de uma agência para outra, chegará uma hora que você já trabalhou em todas as agências na sua cidade a tal ponto de não ser mais recontratado por elas. E aí você terá que procurar outro mercado para se manter empregado.

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